quarta-feira, 16 de novembro de 2011

MENINO NEGRO, MUNDO BRANCO


A série americana “Everybody Hates Chris” (Todo Mundo Odeia o Chris, na versão do Brasil) relata de forma humorística alguns fatos da adolescência do ator comediante Chris Rock entre os anos de 1982 a 1987. Essa série possui quatro temporadas nas quais Chris sofre vários tipos de preconceitos como, por exemplo, ter que pegar o ônibus que “rodava nos bairros de brancos” e ser desprezado ao ponto de ninguém querer sentar ao seu lado, mas nada que se compare ao período da sua vida acadêmica onde era estereotipado por ser o único garoto negro estudando num colégio de meninos brancos.
Essa série permite fazer um bom exercício de reflexão com relação ao texto “Pele negra, máscaras brancas” de Frantz Fanon (2008), pois traz questões abordadas pelo autor em seu livro a exemplo da questão da linguagem como forma de assimilação de uma cultura, mas que não necessariamente implica em reconhecimento, podendo resultar numa ilegitimidade, uma vez que os negros ao negarem suas gírias e adotarem a linguagem do branco, fazem deste último o seu espelho. Vale salientar que no bairro onde Chris morava, Bed-Stuy (distrito do Brooklin), existiam colégios repletos de meninos negros, mas sua mãe (Rochelle) acreditava que esses colégios só ensinavam os garotos a serem marginais, enquanto a educação dos brancos visava futuros produtivos e a entrada em boas universidades. Isso nos remete a pensar no que Fanon chama de “guerra maciça contra a negritude” (p.15), uma vez que Rochelle tenta educar seus filhos com base na educação dos brancos, tanto é que em um episódio ela tenta a todo custo ingressar seus filhos no João e Maria – um clube específico para os filhos inteligentes e educados dos brancos.
Outro ponto que é tratado nessa obra de Fanon e que podemos ver em “Todo Mundo Odeia o Chris” é a questão do narcisismo onde ele mostra, por exemplo, que muitos brancos “(...) preferem uma imagem de si mesmos como não racistas, embora na prática ajam freqüentemente de forma contrária (p.15)”.
Notamos essa falsa imagem do branco como não racista na personagem da professora Morello que é favorável à comunidade negra, ao mesmo tempo, que se mostra como extremamente preconceituosa relacionando Chris com diferentes esteriótipos referentes aos negros. Senhorita Morello  se esforça para ser politicamente correta, porém sempre acaba reforçando esteriótipos raciais, quando em tese como educadora deveria minimizar o racismo sofrido pelo garoto negro sem renegar a condição racial do mesmo. No entando ela acaba reforçando através de termos como “o povo do Chris” que ele é afro-americano e não pertence ao mundo do ítalo-americano, uma vez que possui uma tribo própria que o diferencia como pertencente a outra tribo etno-social e genomica norte-americana.
Algo como: você está aqui, mas lembre-se que veio de outro mundo e ainda pertence a este outro mundo, visto que a tentação em querer ser assimilado pelo mundo novo e aparentemente "melhor" que o seu é bastante tentadora, mas ao mesmo tempo destruídora de ambas as identidades originais e portanto diminuidora da real diversidade, pois anula duas para gerar apenas uma. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)
É precisamente o que Fanon fala sobre a existência de dois campos: um branco e um negro onde percebe-se que nesses campos o negro tem um modo de se comportar com o branco e outro modo quando está com outro negro, desse modo poderíamos compreender essa noção como sendo consequência do colonialismo, assim como o fato de adotar a linguagem diferente da sua coletividade nativa representa uma clivagem.
E por fim gostaria de trazer a crítica que Fanon faz ao branco que trata o negro independente de sua idade como uma criança que não consegue compreender os termos usados pelos brancos em suas falas usando assim o “petit-nègre” para tentar se comunicar com o negro de forma compreensível, remetendo-o ao seu mundo inferior, mesmo que na maioria das vezes essa não seja a intenção. Em guisa de conclusão percebemos tanto em Fanon quanto na série em questão que o negro para não se sentir inferior veste uma máscara de embranquecimento na tentativa cada vez maior de se igualar ao branco: o ápice do ser civilizado.

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